Hoje vamos conhecer mais sobre a serra, os campos e a história do Rio Grande do Sul. Um estado com muita personalidade, mas também com espírito brasileiro. A paisagem que vemos abaixo é a do Rio Caí, que em tupi significa "águas da mata", e que também ligam Porto Alegre a Caxias do Sul.
Neste ponto estamos a pouco mais de 10 quilômetros de Canela. Na verdade, esta é a Represa do Blang, que faz parte do conjunto de lagos artificiais do sistema elétrico da região. Tudo desaguando nesta barragem de 583 metros de comprimento. Mais de 14 milhões de metros cúbicos de água se acumulam em trechos de até 12 metros de profundidade.
Claro que além da energia, os lagos também viraram uma das principais opções de lazer na região. Clubes, hotéis e pousadas foram construídos em torno das águas e ficam cheios nos finais de semana. Seguindo o curso do Rio Caí, chegamos agora a um lugar chamado Passo do Inferno.
A região pertence ao município de São Francisco de Paula e o nome vem das dificuldades que as caravanas de viajantes tinham para atravessar o rio e as montanhas. Em 1935, o exército finalmente construiu esta ponte de ferro para facilitar a extração da madeira das araucárias, antes em grande número por aqui. Hoje tudo isso é uma reserva ambiental, com o que restou da vegetação nativa.
As áreas planas naturalmente recebem mais moradores e, em consequência, mais intervenções na paisagem natural. Casas, açudes, pistas de pouso e grandes plantações. Até chegarmos ao centro urbano de Canela, uma das cidades que mais recebem turistas no sul do país.
Grandes condomínios, hotéis e resorts trazem conforto aos visitantes. Mais de 2 milhões de turistas passam todos os anos por aqui. Canela é uma cidade muito tranquila e organizada, com o charme da colonização europeia e as atrações como a Catedral de Pedra, erguida em estilo gótico inglês.
Agora voamos para a vizinha ainda mais badalada, Gramado. Mas aqui na serra, até a viagem é parte da diversão. É assim que sobrevoamos a Cascata do Caracol, um verdadeiro espetáculo. São 131 metros de altura, desenhos que se formam diante dos nossos olhos e nos hipnotizam.
Mas em meio à harmonia e ao caos da natureza, de repente encontramos desenhos geométricos em linhas rigorosamente calculadas. É o cultivo de pinos e eucaliptos para a indústria madeireira.
Em cinco minutos estamos sobre Gramado, um município de 34 mil habitantes, mas que nas altas temporadas chega a receber um número de pessoas cinco vezes maior. Há 835 metros acima do nível do mar, o clima é temperado. No verão fica um pouco acima dos 20 graus. No inverno, com temperaturas perto de zero, muita gente vem para aproveitar esse clima meio europeu.
Este também foi um dos motivos que levaram italianos e alemães a se estabelecerem por aqui no início do século XX. Muita gente de Porto Alegre também constrói as suas casas de veraneio entre Gramado e Canela, em locais como o entorno do Lago Joaquina Rita Bier, ou do Lago Negro.
E agora que tal descermos a serra? Onde as montanhas permitem, as casas e fazendas vão se estabelecendo. O menor espaço acaba aproveitado para agricultura, criação ou lazer. São 62 quilômetros até Novo Hamburgo, uma cidade com crescimento significativo nas últimas décadas.
O número de avenidas e edifícios é comparável a muitas capitais de estados brasileiros. A cidade mais importante do Vale dos Sinos vai ser sempre conhecida como a capital nacional dos calçados, mas hoje a economia é mais diversificada, com indústria farmacêutica, de cosméticos e roupas.
Agora tomamos o rumo oeste, e seguimos por mais de 500 quilômetros, em rota praticamente paralela à fronteira com o Uruguai. E aqui encontramos um Brasil agrário e cheio de personalidade.
A região de Santa Maria é uma das 30 no Brasil com maior porcentagem de habitantes nas classes A e B. Em volta das cidades, campos imensos e sempre trabalhados. As principais culturas são o arroz, o milho, o fumo, a soja e o feijão. A pecuária também sempre foi muito forte e tradicional.
Mas o nosso principal destino nessa área do Rio Grande é São Miguel das Missões, um município a 473 quilômetros de Porto Alegre e próximo da fronteira com a Argentina. Aqui estão as construções da antiga Redução de São Miguel Arcanjo, declaradas Patrimônio da Humanidade pela Unesco.
A obra, do começo do século XVIII, fazia parte dos Sete Povos das Missões, projeto dos jesuítas espanhóis para colonizar e catequizar as comunidades indígenas guaranis. Trinta núcleos parecidos com este foram construídos entre o Brasil, a Argentina e o Paraguai, sete deles no nosso país.
Portugueses e bandeirantes expulsaram os jesuítasda região. A primeira tentativa de estabelecer-se veio em 1632, e os religiosos foram derrotados. Cinquenta e cinco anos depois aconteceu uma nova tentativa, com mais de quatro mil indígenas e a construção de cem casas, além de lojas e oficinas.
A linda igreja é de 1735 e o projeto é baseado em uma catedral romana. Mas na Guerra Cisplatina de 1828, a comunidade foi saqueada pelas tropas brasileiras e a igreja deixada à própria sorte.
Capítulos da nossa história. Tesouros para sempre. Natureza, economia, paisagens urbanas, patrimônios coloniais. Este é o interior do Rio Grande do Sul. Mais reflexões e paisagens do Brasil.


