Continuamos nossa viagem pelo Rio Grande do Sul, e hoje passamos por locais pouco conhecidos pela maioria dos que viajam a turismo no país. Uma região extraordinariamente bela. Pelotas tem 330 mil habitantes, e junto aos municípios vizinhos, compõe uma área que chega a 600 mil pessoas.
Um grande mercado que envia e recebe mercadorias pela BR-392, uma rodovia federal que cruza todo o estado e vai até a Argentina. Outra ligação de Pelotas com o mundo sempre foi através das águas. E uma dessas saídas é o Laranjal, esta bela praia, que fica às margens da Lagoa dos Patos.
Mas em Pelotas está também uma das extremidades do canal São Gonçalo. São 76 quilômetros de águas calmas ligando a Lagoa dos Patos à Lagoa Mirim. Não pode ser considerado um rio porque ora a correnteza vai para um lado, ora para o outro, dependendo do nível de cada lagoa.
Muitas vezes a água salgada invadia a Lagoa Mirim, prejudicando o abastecimento das cidades e muitas das plantações da região. Por isso, em 1977 foi construída essa eclusa, uma barragem de 120 metros de comprimento que melhorou muito a produtividade das fazendas em volta.
Com tantas regiões alagadas, a área é perfeita para o cultivo do arroz. Outras terras ainda não cultivadas acabam formando uma grande atração para quem vê a região de cima. O verde da vegetação, o reflexo das águas e os tons escuros da terra criam muitos desenhos na planície.
É assim que chegamos à Lagoa Mirim, que apesar deste nome, é a maior do Brasil. Isto porque a Lagoa dos Patos é, na verdade, uma laguna, isto é, tem saída para o mar e, por isso, água salobra. Mas deixemos esse aprofundamento por enquanto e aproveitemos apenas a beleza do local. Às vezes ela se parece com o mar, outras vezes com um rio. E as vezes se parece com outro planeta.
O único farol existente é o da Ponta Alegre. Com 16 metros de altura e estrutura quadrangular, ele já está desativado há mais de 50 anos. Mas mesmo sem as luzes, segue de algum modo ajudando os navegantes e recusando-se a ser esquecido, em um cenário que nem mesmo os criadores de efeitos especiais do cinema poderiam imaginar, nem os mais brilhantes abstracionistas ousariam pintar.
Em meio à imensidão de águas e paisagens espetaculares da Lagoa Mirim, eis que de repente vemos um pequeno povoado. Taim é um distrito do município de Rio Grande e fica a cerca de 47 quilômetros de qualquer outro povoamento. São apenas 1.500 habitantes, e uma vida pacata.
Agora sobrevoamos a Lagoa dos Patos. Esta é a Torotama, onde moram quase duas mil pessoas, isoladas do agito e de qualquer confusão, vivendo da pesca e da agricultura familiar. Um pequeno pedaço de paraíso em plena região subtropical, e um distrito do principal município da região.
Rio Grande tem uma população de 200 mil pessoas, e a mais meridional das cidades grandes e médias do país. Um lugar tranquilo, com urbanismo bem pensado e boas perspectivas econômicas.
Bem diante do centro urbano está a Ilha da Pólvora. São 42 hectares de terras que passam parte do tempo alagadas ou úmidas e assim tornam-se locais perfeitos para a reprodução de diversas espécies de aves, larvas, peixes e moluscos. Por isso mesmo, na ilha também está o Eco-Museu.
Do Superporto do Rio Grande sai grande parte dos grãos produzidos no sul. É também a porta de entrada para os fertilizantes que serão usados nestas mesmas plantações. Mas também há grande movimento de manufaturados, incluindo automóveis. O mar de containers parece com brinquedos.
Outra grande força da economia local vem da indústria do petróleo. Além de abrigar uma das maiores refinarias do país, no município também são construídos e montados grandes navios petroleiros. Por isso mesmo, o estaleiro Rio Grande tem o maior dique seco da América Latina.
Do outro lado do canal, que comunica a Lagoa dos Patos com o Oceano Atlântico, está outra cidade, São José do Norte, com apenas 25 mil moradores. Curioso é que no extremo sul do Rio Grande do Sul, o município leva este nome, apenas por estar levemente ao norte da cidade vizinha.
Encontramos agora, uma construção bem peculiar. Este é o Molhes da Barra, uma enorme extensão de pedras colocadas estrategicamente para defender os navios que chegam ou partem do porto de Rio Grande. Depois de vários acidentes causados pela maré, foram construídas essas barreiras de 3 quilômetros e 200 metros de extensão. Um corredor de segurança para marinheiros e cargas.
Esta é a história das fronteiras. A necessidade de estar atento e de buscar soluções para todas as dificuldades é permanente. Terra de homens bravos, que constroem o seu presente e o seu futuro.


